Recuperação da aptidão física após a Covid-19

14 de Abril de 2021 às 21:22

Médica do esporte e ortopedista Ana Paula Simões e personal trainer Fabiane Ferreira analisam estudo sobre como o coronavírus afeta a função cardiorrespiratória e a percepção da fadiga e sobre a importância do exercício na reabilitação dos pacientes

O medo nos assombra dia após dia, com incertezas e inseguranças relacionadas à nossa saúde e à saúde daqueles que amamos, especialmente nessa pandemia de Covid-19. Com isso, nos deparamos com a necessidade de aprender, entender e procurar nos apegar a qualquer coisa que possa nos ajudar a passar por isso sãos e salvos. E segundo vários estudos, o esporte hoje é considerado o melhor remédio preventivo e auxiliar na recuperação do coronavírus. Pensando assim, resolvemos ler alguns trabalhos e trazer aos leitores do Eu Atleta primeiramente motivação. Porque o que está comprovado e demonstrado, por ser indiscutivelmente seguro, é a importância da introdução da atividade física em nossas vidas. Mas e para quem já pegou Covid-19? Como ficam as mudanças e a recuperação após a infecção?

É o que vimos nessa Revisão Sistemática 2 de Mudanças e Recuperação na Função e Aptidão Física após Infecção por COVID-19. Pois já se sabe dos benefícios da prática de exercícios na prevenção da doença e de seu agravamento. Mas agora temos o público que teve a doença e quer voltar a prática, e os trabalhos indicam que a gravidade da infecção pode estar associada a uma pior recuperação pós-infecção e à demora no retorno às atividades

Um total de dez artigos foram incluídos nesta revisão. E evidências de nove artigos demonstraram que os pacientes com SARS-CoV-2 tinham níveis reduzidos de função física e aptidão pós-infecção em comparação com controles saudáveis. Ou seja , é esperado que você não consiga voltar aos mesmos níveis esportivos imediatamente após a contaminação. Além disso, os pacientes demonstraram recuperação incompleta da função física, com algumas deficiências residuais por pelo menos seis meses após a infecção.

Então como fica o retorno após a contaminação?

Segundo os autores, a volta à prática esportiva deve acontecer o mais rápido possível, assim que autorizada pelo médico. As evidências de um ensaio clínico randomizado descobriram que uma intervenção combinada de treinamento aeróbio e de resistência melhorou significativamente a aptidão física e a função pós-infecção em comparação com o grupo de controle.

Aparentemente, seis meses após infecção é considerado um tempo mínimo para melhora da aptidão física e capacidade funcional dos pacientes, seguido então de recuperação progressiva a depender da memória muscular individual.

Por que isso acontece?

Os mecanismos que levam ao comprometimento da função física após a infecção pelo SARS-CoV-2 são provavelmente multifatoriais e surgem como consequência da infecção, prolongada hospitalização e /ou imobilidade. Por exemplo, durante os períodos de imobilidade devido à doença crítica, em torno 25% dos pacientes desenvolvem fraqueza muscular significativa; particularmente dos grupos musculares dos membros inferiores envolvidos em mobilidade funcional.

Esta fraqueza adquirida pode ser atribuída a uma diminuição na área de secção transversal do músculo e do tamanho da fibra muscular ou a uma redução no músculo das fibras tipo II. Além disso, até 50% das pessoas admitidas na UTI podem desenvolver miopatia crítica ou neuropatia, levando a uma redução no recrutamento da unidade motora e na força capacidade de geração do impulso ao músculo. Juntamente com as mudanças na função muscular, níveis mais baixos de capacidade aeróbica são associado à função física reduzida e à independência durante as atividades da vida diária.

Como identificado através desta revisão, pessoas infectadas com o novo coronavírus demonstram diminuição do VO2max (consumo máximo de oxigênio) independente de função pulmonar e ventilatória; assim, descondicionamento e níveis reduzidos de aptidão cardiorrespiratória também podem levar em conta as reduções na função física pós-infecção. Além disso, a fadiga pós-viral, que foi relatada em 40% das pessoas após infecção por Covid-19, também pode contribuir para a redução da função física devido ao aumento da percepção de esforço durante as tarefas funcionais É importante considerar outros potenciais sintomas de COVID-19, como fadiga severa, depressão e disfunção cognitiva, que podem impactar esses resultados e a eficácia da reabilitação.

O que fazer?

Mesmo considerando a escassez de estudos, até por ser um assunto tão atual e que gera tanta dúvida, adotar um protocolo com exercícios combinados (aeróbico e força), com baixa intensidade, que pode ser intervalado ou contínuo, e exercícios resistidos tanto para membros superiores quanto inferiores é o ideal numa sessão organizada por um profissional da saúde qualificado.

Sugere-se que a infecção viral contribui para o desenvolvimento da síndrome da fadiga crônica em 27% dos casos infectados. Além disso, disfunção cognitiva, como delírio, e deficiências psicológicas crônicas, como depressão e transtorno de estresse pós-traumático, também podem ser experimentadas durante períodos de doença crítica e UTI.

Assim, estudos futuros devem avaliar o consequências de Covid-19 na psicologia e domínios cognitivos, além de determinar como esses resultados podem influenciar a recuperação da função física; estes achados podem, então, informar e ajudar na intervenções de reabilitação que consideram o impacto de sintomas como fadiga na recuperação.

O estudo só reforça o que imaginamos e falamos dia após dia: a Covid-19, doença caracterizada por afetar a função pulmonar, reduz a aptidão física e a capacidade funcional, principalmente debilitando nossas funções cardiorrespiratórias, o que deve ser combatido com prevenção e com a prática esportiva.

É ainda evidente que a aplicação de uma sessão de exercícios após a infecção - e depois da liberação médica para a atividade física - é extremamente necessária, até porque não é só a saúde física que está em jogo, mas a mental também. E nada como se cuidar e liberar umas endorfinas para ajudar nisso. Não, é valentes?

Bons treinos!

Ana Paula Simões - CRM : 108667 SP/SP RQE: 67412 e 28753;

Fabiane Ferreira, Personal Trainer CREF 011382-G/mg (@fabiferreirapersonal).

* As informações e opiniões emitidas neste texto são de inteira responsabilidade do autor, não correspondendo, necessariamente, ao ponto de vista do Ge / EuAtleta.com.